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quinta-feira, 19 de junho de 2008

Há quem tenha medo do tempo

Há quem tenha medo do tempo. Muitos o vêem como inimigo, outros o desconhecem ou fingem não percebê-lo.Encontrei um ancião, barbas brancas, bordão à mão, pois não mais confiava nas pernas.Perguntei-lhe o que pensava das perdas que o tempo ceifara. Quis também saber das forças que se esvaíam, da vista que enfraquecia, se sentia solidão. Se a memória traiçoeira às vezes o desconcertava, não o deixando à vontade.Com surpresa ouvi, atenta, sua revelação:-Convivo bem com meu tempo. As pernas, a vista, a força, a memória atrapalhada, nada me serve de empecilho para desfrutar as alegrias que me chegam diferente. Não amaldiçôo o tempo, dou-lhe sempre toda razão, pois ele cumpre com o seu dever.Embora as forças me faltem, sinto-me muito bem. Hoje entendo as pessoas, aprecio as estações que mudam a feição do tempo.Creio na força Maior que me trouxe a este mundo. Sinto-me muito mais sábio do que fui na juventude: me encanta olhar uma flor, frutas e frutos tão saborosos; tudo criado por Deus, o mesmo Criador que me fez nascer. Cada dia entendo melhor a força da Criação.Aprendi a guardar alegrias, dispensar qualquer tristeza. A sabedoria me diz que, quando meu dia chegar e a grande viagem encetar, irei na hora certa.Em outra dimensão, em outra forma de vida, levarei a experiência e as mãos plenas de amor.Aguardo... é o que posso fazer... sem pressa, sem medo, sem questionar.Mas sei: “Lá, para onde irei, sou amigo do Rei”.


Helena de A. Costa

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